APRESENTAÇÃO
Surgimento do programa e área de concentração
O Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual de Montes Claros, cujas atividades se iniciaram no primeiro semestre de 2011, é resultado de um processo de formação e amadurecimento das pesquisas dos professores da referida Universidade no último decênio.
Em virtude da convergência na formação e nas áreas de interesses dos docentes, optamos pela Historia Social como nossa área de concentração, servindo-nos do legado dos movimentos que se constituíram em oposição às abordagens da história factual, centrada nas ações de grandes homens, criticadas especialmente pelas Ciências Sociais. As novas propostas colocaram em evidência a percepção do social e a contribuição de diferentes áreas na prática epistemológica propiciando assim, um campo fértil para a emergência da História Social. Sem desconsiderar as críticas iniciais a sua concepção generalizante e sua perspectiva de síntese, atualmente a expressão é utilizada em sentido mais restrito em decorrência dos recortes necessários aos novos problemas propostos e, consequentemente, novas metodologias.
Considerando-se o conjunto destas implicações, o itinerário metodológico e teórico das pesquisas empreendidas pelos que se filiam a essa proposta, não pressupõe apenas a busca da racionalidade ou da estabilidade humana, mas a trajetória das mudanças, das rupturas e das permanências que se operam tanto nos modos de sentir quanto nas formas de ação dos grupos sociais.
A partir desses pressupostos as pesquisas aproximam-se da interdisciplinaridade e consequentemente se abrem para um amplo campo de abordagens teóricas e metodológicas com vistas à compreensão de problemas históricos por meio da investigação dos conflitos, articulações e acomodações inerentes às relações sociais que se operam no território cultural, simbólico, político, econômico, institucional, trabalhista, das identidades e de gênero, que os sujeitos estabelecem entre si, com o outro e com as instituições que regem as diversas sociedades. Entende-se que as experiências humanas se constituem num complexo intercâmbio de grupos sociais e por isso só podem ser apreendidas a partir de diferentes perspectivas de interpretação.
Não por acaso, conferir inteligibilidade aos desafios e às respostas dos sujeitos históricos aos conflitos inerentes aos vários contextos sociais, requer dos pesquisadores a ousadia de adentrar pelo território fértil, mas também movediço, das singularidades históricas que englobam as experiências humanas permeadas pelas relações de poder e as diversas abordagens teóricas que envolvem essa perspectiva de interpretação. Nos espaços onde são travados os embates pelo poder, alimentadas pelas mais diversas formas de coerção e conflitos e seu contraponto inevitável de negociações, resistências, mediações e acomodações, são construídas as representações coletivas e todo o vasto elenco das dimensões simbólicas e imaginárias, veiculadas, apropriadas e ressignificadas por diferentes mídias, e que constituem as formas de identidade sociais e políticas e culturais. Importa lembrar que a construção das identidades são processos dinâmicos tanto quanto são plurais as identidades que assumem contornos diferenciados a partir dos contextos em que se identificam, e são identificados os mais diversos grupos sociais. Nas relações engendradas no mundo do trabalho, assumem variadas formas que, teoricamente, se opõem às interpretações binárias e reducionistas entre exploradores e explorados e atentam para as estratégias de negociação condicionadas, obviamente, pelas especificidades regionais e temporais. Percorrendo outro viés teórico, as relações sociais são interpretadas também pela perspectiva cultural articulada à antropologia e à literatura que revelam os discursos pelos quais as tentativas de imposição de normas de comportamentos são elaboradas. Nessa perspectiva, os estudos de gênero são contemplados como aporte essencial à compreensão dos dispositivos de representações do masculino e do feminino que, quase sempre são permeadas pelas mais diversas formas de violência: física, institucional e subjetiva.
Destarte, a área de concentração em História Social contempla a pluralidade geográfica e cronológica de objetos, múltiplas temáticas e variadas possibilidades de investigação de fontes históricas que visam à apreensão das manifestações da intervenção humana engendradas na dinâmica dos fenômenos históricos. Esses pressupostos conduzem os pesquisadores às novas revisões teóricas e também às formas pelas quais podem ser aplicados esses referenciais na prática das pesquisas que atualmente norteiam o campo de investigação da História Social.
Objetivos do programa
O Programa de Mestrado em História Social da Unimontes tem como objetivo geral formar profissionais tanto para a docência quanto para o desenvolvimento e orientação de pesquisas, a fim de suprir a carência de profissionais com essa formação específica, particularmente na região norte-mineira.
A Unimontes é a mais antiga universidade pública inserida em uma macro-região na qual, a partir do Norte de Minas, atinge outras regiões de Minas Gerais e mesmo o Sul da Bahia. Essa área de atuação compreende 120.000 km2, quase 30% do total do estado, alcançando mais de 300 municípios do Norte de Minas Gerais e dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Atende ainda ao Noroeste do estado, o vale do Urucuia e uma parte significativa do sul da Bahia, abrangendo uma clientela que, em potencial, ultrapassa dois milhões de habitantes. Essa área é, contudo, conhecida nacionalmente por apresentar baixos índices de desenvolvimento e problemas sociais decorrentes das grandes e históricas desigualdades econômicas. Sua contribuição para o PIB estadual é pequena e o índice de GINI indica uma forte concentração de renda nas últimas décadas. Fatores climáticos como a seca que castiga a região e demográficos, como as migrações internas, contribuíram para esses indicadores, apesar dos inúmeros programas de desenvolvimento implantados com recursos subsidiados pela SUDENE e outros órgãos governamentais e não-governamentais.
Não obstante, a UNIMONTES tem se constituído em um fator de desenvolvimento regional por meio de diversificados projetos de extensão, de investimento na pesquisa voltada particularmente para os problemas regionais e da capacitação de pesquisadores e profissionais das diversas áreas de conhecimento.
No que se refere ao mestrado em História, os objetivos específicos do programa visam formar um egresso que esteja capacitado para realizar pesquisas, bem como debater acerca das propostas metodológicas e historiográficas contemporâneas; que seja apto para a interlocução com áreas afins, assegurando sua capacidade de interpretar questões atuais relacionadas à História Social com ênfase na compreensão das relações de poder e nas construções culturais que se esperam entre múltiplos grupos sociais em diversos tempos históricos. Faz parte dos objetivos específicos do Mestrado em História da Unimontes, a preparação de um profissional capaz de contribuir para a produção de conhecimento e para a preservação da memória norte mineira.
O Norte de Minas está presente entre os objetos de estudos do corpo docente e discente do PPGH-Unimontes. No entanto, este não é um programa em História Regional. A escolha pela história social como área de concentração tem permitido desenvolver pesquisas diversas independentemente do seu recorte territorial. Assim, tem-se evitado o provincianismo. Em verdade, nossos docentes e discentes vem desenvolvendo trabalhos cujos objetos extrapolam até mesmo o âmbito nacional. Nesse mesmo intuito, estão sendo celebrados convênios com universidades estrangeiras, e está havendo um intercâmbio com outras universidades nacionais e professores do programa têm buscado participar de eventos nacionais e internacionais.
As linhas de pesquisa têm procurado encontrar um caminho para maior homogeneidade, promovendo uma maior integração entre os seus membros, tentando encontrar objetos, abordagens teóricas e metodológicas que aproximem mais seus membros, assim como tem procurado construir pontes mais sólidas com a área de concentração que é história social.
O programa está promovendo, também, um trabalho articulado de maior integração com a graduação, estimulando o corpo docente a atuar, por exemplo, na orientação da iniciação cientifica.
Há ainda uma tentativa de amadurecimento de idéias que resultem em grupos de pesquisa mais abrangentes e mais duradouros, que possam servir de abrigo para uma diversidade de projetos de pesquisa que contemplem de forma mais harmônica os interesses que levam à produção individual ou coletiva.
