
A Revista Língua Nostra – Literatura, Filosofia e Psicanálise: Entre-lugares, encruzilhadas, dobras, abre chamada para submissão de artigos.Em prefácio à tradução brasileira do seminal Luto e melancolia, de Sigmund Freud, Maria Rita Kehl (2013) lembra que a longa tradição ocidental, que associava ao “gênio” poético o humor oscilante do melancólico – entre o extremo da sua condição e o “polo antípoda” da mania –, não havia, certamente, sido ignorada pelo criador da psicanálise na escolha desse significante para “desafiar a psiquiatria de sua época” (p. 23). Três anos após a publicação desse ensaio de 1917, em Além do princípio de prazer, Freud (2019) encontra, na epopeia romântica de Torquato Tasso, Jerusalém libertada, “a figuração poética mais comovente de semelhante traço fatídico” (Freud, 2019, p. 71) com a compulsão à repetição do trauma nos atos inconscientes do sobrevivente. (…) O romance, lembra-nos Linda Hutcheon (1988), desafia a leitura psicanalítica das causas do adoecimento da protagonista – que não são da ordem de um passado psíquico individual, mas de um futuro coletivo, sofrido, exemplarmente, no corpo singular de uma judia em determinado presente histórico. Nesse momento, alcançamos não somente a intersecção dos arquivos reais e ficcionais da psicanálise no discurso literário, mas somos guiados à encruzilhada do pensamento de Jacques Derrida, filósofo franco-magrebino de origem judaica, leitor de Freud, cujo interesse pela literatura se recrudesce na sua paixão pela língua, pela palavra/escrita idiomática intraduzível a-traduzir que encontra sua expressão maior no poema. Conforme o filósofo, a pergunta sobre a essência – “o que é …?’” – do poema “chora” seu desaparecimento (Derrida, 2001, p, 116), pois, longe de portar uma essência, a escrita poética e literária se desdobra (e se dobra em torno de ‘si’) no rastro de diferença, da alteridade – o poema é o outro, o outro da prosa, da filosofia. O pensamento de Jacques Derrida também se inscreve nesse entre-lugar, nem filosófico, nem literário e, ao mesmo tempo, um e outro (e outro…). Em Béliers, o pensador franco-magrebino (2003) refaz a aliança entre a literatura, a filosofia e, ainda que laconicamente, a psicanálise – ao evocar a dicotomia freudiana do luto/melancolia na leitura do verso de Paul Celan “Die Welt ist fort, ich muss dich tragen” (O mundo está longe/acabou, eu tenho de te portar/carregar). A aliança se delineia, metonimicamente, no movimento circular de um eterno retorno, em torno da circuncisão de três corpos judeus e da circunscrição de seus corpos textuais (filosófico, poético e psicanalítico), um carregando o outro – o pensamento de Derrida que porta o verso de Celan, em volta do luto e de um certo corpus da psicanálise. Nessa introjeção do outro – literário, psicanalítico ou filosófico – e no limiar impreciso onde se confundem os discursos, vislumbramos o espaço profícuo para discussões em torno dessa aliança.Prazo de submissão: até 20 de março de 2025Emissão de parecer: até 20 de maio de 2025Publicação: até 30 de junho de 2025Mais informações: https://periodicos2.uesb.br/index.php/lnostra/announcement/view/287